domingo, 18 de dezembro de 2016

Explicação e justificativa

Goiânia. 18/12/2016.


Em tempos recentes, venho observando, em minhas interações e debates com uma amiga, a incapacidade dela de compreender a diferença entre explicação e justificativa. Noto também que não é exclusividade dela, mas sim de boa parte das pessoas. Portanto, gostaria de fazer o serviço de explicitar as diferenças entre essas duas fundamentações.

A explicação é meramente o que motivou uma pessoa ou grupo a praticar determinado ato, independente se este é certo ou errado, moral ou antiético, sedutor ou repugnante. Todos os atos, inclusive os mais condenáveis e criminosos, tem sim uma motivação, o que passa longe de legitimar o ato em si. Tal motivação é exatamente o que se entende por explicação.

A justificativa é um subconjunto da explicação. É uma explicação que, neste caso sim, legitima a prática de determinada ação, absolvendo o sujeito da questão de culpa ou de má intenção e justificando o porquê dele ter feito o que fez.

Portanto, não se espante se ouvir frases como "o que motivou o estuprador a estuprar foi, entre outros fatores, o desejo sexual", visto que foi uma simples explicação. O que você deve se espantar ao ouvir são defesas de casos como esse, não meras explicações. 

Vale ressaltar que, nessa postagem, quando eu digo "criminoso","legítimo" ou afins, não estou dizendo no sentido constitucional da coisa, mas sim no sentido ético, de acordo com os valores culturais estabelecidos na minha sociedade. 

No meu caso, minha amiga ficou extremamente irritada comigo dizendo que uma famosidade traiu a mulher porque tinha muito desejo sexual (ela havia lesionado o pênis de tanto praticar sexo com garotas de programa). Tentei com todas minhas forças deixar claro que eu achava aquilo incorreto e, no perdão do termo, uma puta sacanagem com a mulher, mas ela não entendeu. Acabamos dormindo brigados.

Nessa questão, surge ainda um termo curioso, que é o "compreensível". De acordo com o dicionário Aurélio, compreensão é a faculdade de perceber, a percepção. Neste caso, se encaixaria perfeitamente na explicação genérica, uma vez que perceber algo não significa necessariamente compactuar com.
Entretanto, noutra definição do mesmo dicionário, compreender significa entender alguém, aceitando como é, sendo, nesse último, uma definição que tende mais para o lado da justificativa. Frente uma situação dessas, creio que o mais conveniente a se fazer é fugir desse termo.

Ainda sobre o "compreensível", mesmo com essa duplicidade de significações, eu sempre tive o termo como mais voltado para a justificativa. Ainda mais depois do caso da polêmica e, no meu entender, espúria e infeliz, declaração da Rachel Sheherazade no Jornal do SBT no caso dos linchadores de bandidos: "a atitude dos vingadores é até compreensível!".

Embora essa palavrinha tenha permanecido atabafada, creio eu que consegui deixar claro as diferenças entre esses dois atos, o de explicar e o de justificar. Por ora, é só. Grande abraço. Danilo.


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